sábado, 28 de abril de 2012

O hino de Ibicaraí e a sua história

O hino ibicaraiense conta e faz a história de Ibicaraí

Francisco Arthur Pedroso e Maestro João Felipe (imagens subtraídas do Jornal a Notícia) 
Para falar sobre o hino ibicaraiense foi necessário entender qual a importância do hino perante a sociedade no que diz respeito à identidade local, regional, nacional ou mundial. Mesmo esquecido em certo momento do tempo, tendo que ser resgatado para não ficar em desuso, o hino ibicaraiense carrega em suas letras as origens de um povo hospitaleiro e alegre e que construiu sua identidade com traços de um povo aguerrido, vencedor e prospero.

Neste contexto é importante salientar que a ideia de se criar um hino para representa algo, surgiu na antiguidade, isso, para ser utilizado em celebrações religiosas, no intuito de acentuar o fervor espiritual dos cristãos. Porém, no século XIX, encorajado pelo estilo de época denominado Romantismo, que ganhou grande força com a ascensão das ideias liberais, os hinos ganharam novas características, sendo adotados à honra da pátria e dos seus heróis, que lutaram em defesa das mesmas. Assim, conduzido por um sentimento de identidade e nacionalidade surgiu o hino de Ibicaraí.

O hino, no entanto, nem sempre consegue ficar para eternidade. O Hino Nacional Brasileiro, por exemplo, ganhou quatro versões distintas: A primeira foi feita em 1831, relatava a abdicação de D. Pedro I, como imperador do Brasil, fazendo referência ao retorno do mesmo a Portugal; o segundo surgiu em 1841, para homenagear a coroação de D. Pedro II; o terceiro hino foi elaborado em 1889, após a proclamação da República, mas tornou-se sem sentido, em razão da libertação do Brasil do governo português; a quarta e ultima versão foi elaborada no ano de 1922, é a mesma que cantamos nos dias atuais.

No mesmo contexto, o hino ibicaraiense ganhou duas versões: O primeiro hino foi criado entre o final da década de 1960 e o início da década de 1970, pelo funcionário da Indústria e Comércio Grapitec S/A, Sr. Francisco Arthur Pedroso, não se sabe exatamente à que o hino se referia, pois, com o passar dos tempos a melodia acabou se perdendo na memória popular.

Porém, no ano de 1988, nas comemorações festivas dos cinquenta anos do prefeito Henrique Oliveira, um novo hino foi elaborado pelo maestro João Felipe, que presenteou não apenas o prefeito Henrique como toda a sociedade ibicaraiense. Apesar de sua importância histórica, o hino havia sido tocado apenas uma única vez, justamente no aniversário do alcaide. Em seguida, foi arquivado, e sem incentivos passou a ganhar o mesmo destino do primeiro. Até que, aproximadamente dez anos depois, o pesquisador Waldyr Montenegro (Boró), durante suas pesquisas sobre a história do município, descobriu a existência do cântico. Com a descoberta Boró recorreu ao Maestro Felipe, que autorizou a reprodução do hino. Em seguida, o pesquisador contratou os músicos Joel Gomes para ser o interprete e Marcos Aurélio para montar os arranjos, Odilon Mesquita fez a mixagem. O hino estava resgatado, agora restava publicar.

Então, com o apoio das Faculdades Montenegro foram reproduzidas cem (100) cópias e distribuídas nas principais instituições públicas: colégios, prefeitura, complexo policial etc. No ano de 2003, o vereador Dr. Yonaldo Guedes criou o projeto lei que torno o hino do maestro J. Felipe o hino oficial do município ibicaraiense.

Notoriamente é perceptível que os munícipes pouco parecem se interessar pela história local, pouco se tem feito para propagar essa tradição, a cidade se quer tem uma secretaria de cultura. O que resta a fazer então? No meu caso faço o possível para manter a memória sempre colocando neste blog, o que eu tenho aprendido com minhas pesquisas sobre a história de Ibicaraí e, se você teve a paciência de ler todo este texto, é sinal de que você também esta interessado, então vamos nos unir, lutar para que esta memória não fique esquecida no passado. Vamos aprender como nossos ancestrais e vamos provar que: “nós ibicaraiense somos de uma terra sem igual, de culturas mil, da terra do cacau, reserva nacional, somos o orgulho da Bahia e do Brasil”.

No início deste ano, a ex-primeira dama Baby Oliveira me cedeu a fita cacete que continha as imagens do cinquentenário do ex-prefeito, nela confirmei a presença do hino original, fiz um edição e lancei as imagens no You Tube, confira no vídeo abaixo o hino original da cidade ibicaraiense.


LETRA
I
Terra Santa e hospitaleira,
Adorada terra amada onde nasci
Majestosa, linda e altaneira,
Ontem Palestina, hoje Ibicaraí
 II
O teu nome é abençoado
Oriundo do Tupi-Guarani
Terra Santa de paz e beleza,
Tu és a realeza: Ibicaraí
 III
O teu povo alegre e pujante
Destemido e conquistado
Conquistando o progresso a passos de gigante
E hoje proclama o teu valor
 IV
Deus te salve Terra Santa,
Universo de paz e de bonança
Tu serás abençoada
Novo mundo de amor de esperança
V
Ibicaraí, terra sem igual,
De culturas e riquezas mil
 Terra do cacau reserva nacional
Orgulho da Bahia e do Brasil



Letra e Música: Maestro J. Felipe
Interprete: Joel Gomes

Polêmica: O hino deveria ser mudado?!

Há poucos anos atrás o professor Sérgio Gama (diretor do Colégio Ana Nery), levantou uma pequena polêmica quando, num jornal local, sugeriu que o hino ibicaraiense fosse mudado para o hino do C.R. Flamengo. Segundo o professor “o hino atual não conta a verdadeira história do município”. Por outro lado, o pesquisador Waldyr Montenegro é contrário à ideia de mudança, e apontou pontos verídicos no hino que retratam a história de luta da criação do município.

Waldyr Montenegro tem dedicado parte da sua vida a resgatar a memória do município ibicaraiense, e o hino para ele é como se fosse uma relíquia, onde ele próprio fez a descoberta. Uma crítica ao hino da cidade é como se fosse um “soco na cara” da história. O pesquisador enfatiza a existência de fatos verídicos relatados na letra da música, fatos estes que contam: “o sucesso dos primeiros moradores, o crescimento da cultura do cacau, o progresso que atingiu de forma acelerada e a alegria que pujava em tempos difíceis.”.

O professor Sérgio Gama, toda via, tentou ser irônico quando sugeriu a mudança do atual hino do município para o hino do Flamengo, porém, se levarmos em conta a falta de incentivo em propagar a história, a cultura e as tradições devo confessar que o professor Sérgio tem razão.

A cultura futebolística tornou-se a principal cultura nacional e pela falta da tradição local ela acaba se resaindo diante da sociedade. Por isso é mais fácil ouvir o hino de um clube de futebol desfilando num carro de som pelas ruas da cidade, do que ouvir o próprio hino da cidade num evento público.

Por outro lado, as pessoas devem ser alertadas do quanto é importante manter a identidade e os laços culturais. Precisamos saber a que grupo pertencemos, ou ficaremos sujeitos a sermos esquecidos na história, como se nunca tivéssemos existido. Para isso, o hino atual de Ibicaraí não conta apenas uma história do passado, a própria história do hino já constrói mais uma nova versão da história de Ibicaraí, que devemos carregar para o futuro.

4 comentários:

  1. Acho que a iniciativa de se propagar mais o Hino local, seria a obrigatoriedade de cantar sempre nas escolas. É um ponto de partida, depois em outras camadas da nossa sociedade.

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  2. De minha parte, após eu ter escrito a referida matéria sobre o nosso hino, fui abordado por diversas pessoas que me confidenciaram desconhecer que existia tal hino na cidade - sendo assim creio que a matéria, assim como esta ( muito interessante, por sinal) serviu ao seu propósito.
    por outro lado, apesar do gigantesco esforço do Montenegro creio que nosso hino ainda esteja na obscuridade...
    Sérgio Gama

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  3. O Vereador Valter da Farmácia fez um projeto de Lei para que o Hino de Ibicaraí fosse aprendido e cantado nas escolas do Município.
    A Lei foi sancionada pelo Prefeito Lenildo Santana que além das escolas em todos os atos públicos o Hino é tocado e cantado, a exemplo da inauguração do INSS.

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  4. QUE ÓTIMO TRABALHO BIBLIOGRÁFICO. PARABÉNS AO ACADÊMICO MURILO E SINTO ORGULHOSO POR FAZER PARTE DA REDOMA DESTA TERRA TÃO HOSPITALEIRA. SAUDADES. JFSP

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